"Tintas... Tintas tem o pêlo branco, uns olhos doces e adora brincadeira. Tintas é o filho mais velho do casal como costumavam dizer lá em casa pois, só depois da sua vinda, é que nasceram o Tomás e a Francisca... Nestes tempos de quarentena era animação todo o dia... corridas, berros e os pequenos faziam do cão gato-sapato. Mas houve um dia em que tudo mudou... ninguém queria acreditar no que aconteceu naquele dia. Ouviu-se um guincho do cão logo seguido do choro compulsivo do Tomás. A família perdeu a cabeça!!! Como foi possível o cachorro tão pacato raspar o dente no ombro do Tomás?! E como era possível que o Tomás chorasse mais pela irritação dos pais com o bicho do que pelo que tinha acontecido..."
A história não foi bem assim mas quase. E o que aconteceu de seguida poderia ser dramático para toda a família se os pais não tivessem procurado aconselhamento para lidar com a situação. Acabaram por perceber que o Tintas já andava a mostrar sinais de sofrimento há alguns dias e que as crianças teimavam em não respeitar o seu espaço.
Voltando o filme atrás eram visíveis sinais que alertavam para o que se passava e o que poderia acontecer. Felizmente, foi só um arranhão e esta família conseguiu reorganizar-se para que a harmonia voltasse e o Tintas continuasse o companheiro dos miúdos para tudo. A resolução desta situação foi uma grande lição de amor e compaixão para todos.
Os animais de companhia enriquecem muitos lares portugueses. Os animais de companhia estão associados a muitos benefícios para a saúde humana tanto para crianças como para adultos, não só de cariz físico mas também de bem-estar mental. No entanto, o convívio com estes animais não está isento de riscos, nomeadamente no que diz respeito ao risco de acidentes. Estes acidentes podem condicionar graves lesões nas crianças e o abandono ou abate dos animais. Mas, o importante é que podem ser minimizados se forem tomadas em conta medidas preventivas adequadas.
Fomos pedir conselhos à Dr.ª Adélia Alves Pereira que é a nossa consultora para o relacionamento entre os seres humanos e os animais e que nos alertou para o facto de num momento em que as rotinas mudaram temos de estar ainda mais atentos a estes riscos. Deixa-nos também algumas recomendações.
" Não é só nos seres humanos que o confinamento e as mudanças de rotina geram stress. Não devemos esquecer que a alteração de rotinas, como a que vivemos atualmente, pode gerar alguma frustração no seu animal, principalmente se significar reduzir a aventura de um passeio livre no exterior ou estar sujeito a excesso de estímulos e invasão dos seus espaços de descanso e alimentação. Face a isto temos de assegurar que o seu animal tem uma zona da casa onde se pode retirar quando necessita de estar tranquilo. Temos também de assegurar que, numa altura em que as crianças passam o dia todo dentro de casa, os mais pequenos respeitam as regras de convivência com o seu animal e que estão sempre asseguradas as condições de supervisão.
Podemos mesmo aproveitar este tempo para aumentar o conhecimento que temos dos nosso companheiros de quatro patas. Podemo-nos dedicar a conhece-los melhor e a criar momentos proveitosos para todos.
Esta é mesmo uma atividade muito enriquecedora em vários aspetos. Um dos benefícios associados ao convívio com animais é o conhecimento que gera nas crianças acerca dos ciclos de vida e das necessidades de um ser vivo, o gosto pela natureza, a empatia e respeito pelas necessidades dos outros.
Podemos começar por ser investigadores da natureza dentro de casa! Vamos jogar o jogo da observação e compreender que os animais são de outra espécie e têm necessidades diferentes e formas diferentes de ver o mundo. Como é que eles falam? Como mostram o que sentem? Qual a sua rotina diária? Como reagem quando querem brincar? E quando estão aborrecidos?
Conhecer a linguagem dos nossos animais de estimação e a forma como vêem o mundo é desafiante mas muito compensador. Se conseguirmos reconhecer quando querem ficar tranquilos ou quando querem interagir, vamos tornar esta convivência mais segura, carinhosa e muito divertida.
Este conhecimento é mesmo a garantia para uma convivência saudável entre as crianças e os animais. Respeitando e conhecendo as expectativas e formas de ver o mundo das crianças e dos animais é possível antecipar riscos, harmonizar necessidades e reduzir ao mínimo os acidentes potenciando os benefícios desta relação. Conseguimos criar interações enriquecedoras para ambos e sem riscos ou experiências negativas."
Importante reter:
1. Interaja com os animais na presença das crianças com jogos e treino. Faça jogos para o gato ou o cão e mostre à criança como é divertido vê-los a jogar.
2. Reconheça e respeite as necessidades específicas de cada espécie e a sua linguagem.
3. Promova uma boa socialização com crianças desde cedo e esteja atento aos sinais de desconforto.
3. Promova o respeito e compreensão da linguagem do animal. Ensine a criança desde cedo a interagir e a respeitar o animal.
4. Seja um bom exemplo. Nunca seja agressivo, vai quebrar a relação de confiança entre os dois, ele vai se sentir ameaçado e poderá recorrer à agressividade para terminar com a ameaça.
5. Esteja atento ao estado de saúde do seu animal.
6. Mantenha a supervisão.
7. Procure aconselhamento técnico aos primeiros sinais de stress.
Adélia Alves Pereira
Médica Veterinária, Mestre em Saúde Pública e Pós-graduada em Intervenção na Doença Comportamental em Animais de Companhia
Consultora da Projetos de Gente na área da interação entre seres humanos e animais
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