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Vários mundos aos ombros!

Atualizado: 3 de mai. de 2020


“Há mais de um mês que estamos em casa… Dizem que as medidas vão ser levantadas, mas nem sei se isso será bom para nós. Estes últimos tempos têm sido avassaladores. Conciliar tantos mundos… nunca imaginei que fosse tão difícil…. A vida de casal, a organização da casa, as tarefas do trabalho, a educação dos miúdos, a alimentação, o exercício físico, o dinheiro e a falta de espaço… isto tudo, 24h por dia! A casa parece estar a encolher e eu juntamente com ela…”


Continuamos em casa. Prevêem-se mudanças em breve mas as indicações para mantermos o distanciamento social persistem, com muitas crianças a continuarem em casa e a constante necessidade de adaptação da família a novas formas de vida. Uma necessidade de ajustamento permanente associada à sensação de incerteza do futuro. "Nada será como dantes"...


O desafio é constante, conciliar a vida familiar com a profissional, com os desafios escolares e profissionais, com a segurança de todos e com a nossa vida interior, receios e expectativas. A maior parte de nós nunca esteve tanto tempo seguido com os seus filhos ou o seu marido/esposa debaixo de um mesmo teto. Nunca assumiu tantas responsabilidades ao mesmo tempo ou teve de gerir tantos desafios.


As crianças correm pela casa como índios, ou então solicitam a nossa atenção (que parece ser sempre nos momentos menos oportunos). Depois queremos que não percam o rumo, que isto não afete o seu desenvolvimento mas eles resistem a trabalhar… Querem estar sempre a brincar porque estão em casa, a matéria nova é difícil, as tarefas desencadeiam resistência… “Tu não és professor… na escola a professora não ensina assim… eu quero ir brincar… tanto trabalho!!!” E assim a espiral começa, bem em rodopio para baixo… chegam os berros, o “tu és má!”, o “fazes-me perder a cabeça” ou “a culpa é tua que não ajudas!”.


Mas a bem da verdade são os adultos que estão em alvoroço com tantas coisas que querem controlar. Querem gerir o trabalho, e agarra-lo bem porque não se sabe o futuro, querem organizar a casa e mantê-la apresentável numa altura que é mais utilizada que nunca, querem que as crianças estudem e continuem a aprender mas os professores e os amigos estão longe, querem que estejam caladas para poderem trabalhar mas que não exagerem nas tecnologias nem partam nada, querem que não sujem para não terem de mais uma vez limpar, querem que comam saudável mas não têm cabeça para imaginar mais refeições, querem que todos estejam em segurança mas não imaginam o retorno ao trabalho sem retaguarda, querem que as crianças falem aos avós nas video chamadas mas elas próprias tentam fugir para reduzir as saudades, querem aproveitar o tempo em família mas...mas...


Estranho é se passado este tempo não nos sintamos assoberbados, tensos e até um pouco desesperados. E as expectativa de um regresso a uma "normalidade" desconhecida não é bem aquilo que imaginavamos.


Mas, para bem de todos, temos de tornar possível virar o jogo a nosso favor, retomar o controlo ou gerir o caos, tirar o proveito desta nova realidade e aproveitar para aprender e crescer em conjunto. O stress provoca a exposição do pior e do melhor de cada um. Por isso, mãos à obra e não vamos perder o lanço.


O primeiro passo é assumir que estes sentimentos de desespero fazem parte da vida e tentar identifica-los e perceber como nos influenciam. O segundo é priorizar esses mesmos problemas. A seguir resta-nos assumir que novos problemas exigem novas soluções, o mais viáveis e pragmáticas possíveis. O quarto é assumir que muitas dessas soluções vão falhar mas dessa forma vão se encontrar outras mais eficientes. E por último, respirar fundo e desfrutar da viagem pois é durante a viagem que vamos fazer as maiores descobertas.


Estamos numa época de longas listas de ponderação, muita introspecção, muita discussão de prós e contras e tomada de muitas decisões difíceis.


Por isso, relembramos algumas dicas que com o passar do tempo podem ter ficado esquecidas e que ajudam a manter o equilíbrio e a manter o foco no objectivo por mais umas semanas.


1 - Definam um horário de trabalho, para todos (em conjunto preferencialmente)! Estar em casa não significa não ter regras. Um bocadinho de organização de tempos e expectativas nunca fez mal a ninguém!




Adultos: Apesar de uma maior flexibilidade é imprescindível estipular um horário para conseguir orientar o seu tempo de uma forma mais assertiva, para que possa ter tempo para as tarefas profissionais (atenção aos prazos a cumprir!) e domésticas. Não se esqueça de fazer pausas regulares, de 5 minutos a cada hora de trabalho, para beber um café, comer, fazer uma palhaçada ( esta é uma das vantagens de estar em casa😋) e recuperar a energia.


Crianças: E as crianças também precisam de um horário (idealmente concreto, que visualmente as oriente). Isso vai facilitar a sua adesão as tarefas. Tente que a elaboração dos horários vá de encontro às necessidades de cada um, alterne atividades difíceis com tarefas satisfatórias que deixam uma sensação de sucesso e bem-estar. (Espreite as dicas para adolescentes aqui)


2- Definam locais de trabalho


Adultos: De forma a que não perca os seus documentos profissionais no meio dos brinquedos das crianças, ou a que não apanhe as crianças a ter um acesso de criatividade naquele relatório importante, crie um espaço que seja só para o trabalho, preferencialmente num sítio calmo e afastado da confusão (mas onde consiga estar próximo das crianças para ficarem todos tranquilos).


Crianças: Para as crianças siga a mesma regra. Os sinais externos são muito importantes para que o nosso cérebro se adeqúe à tarefa pretendida. Dai ser mais fácil pô-los a trabalhar na escola que em casa. Mas não desmotive. Se conciliar os horários de trabalho da família conseguirá dar essa rotina necessária e dará um bom exemplo. Por outro lado, é importante que as crianças estejam bem instaladas, bem sentadas e com os pés bem assentes no chão para conseguirem trabalhar.


3 - Planeie o dia e defina prioridades


Adultos: Acorde cedo, vista-se deslumbrante 👗👔👖, tome um bom pequeno-almoço e, antes de começar a trabalhar, reveja o plano de trabalho e defina todas as tarefas e compromissos para esse dia (faça da agenda a sua melhor amiga mas de forma REALISTA, se tentar fazer mais que o razoável só vai stressar ainda mais. ah! E a ideia do caderninho de apontamentos é muito boa porque a memória já não é o que era no meio de tantas interrupções). Destaque, dando prioridade às tarefas mais urgentes para que consiga conciliar a sua vida pessoal e profissional da melhor forma. As menos urgentes podem ser distribuídas no dia de foram diferente tirando proveito de estar em casa 😉.


Crianças: Aqui é também um bom modelo a dar aos mais pequenos. As crianças também devem acordar cedo, vestir-se de forma confortável e tomar o pequeno-almoço em família. Depois organizem o dia em conjunto. Ao partilhar os planos do dia está a organizar as expectativas dos mais novos e a assegurar a tal colaboração. Para isso tenha em atenção os tempos de atenção da criança e a importância dos tempos de lazer e atividade física. Os tais momentos que ativam e motivam para trabalhar. É importante que a criança participe neste planeamento tornando-se cada vez mais autónoma.

Esta é também uma ótima altura para integrar as crianças nas tarefas de casa e dar-lhes responsabilidades. Cada tarefa que lhes é delegada é um novo passo rumo à autonomia e à construção da autoestima e noção de autocompetência. Nestes dias de confinamento e falta da validação social a criança, tal como nós, precisa de se sentir útil e capaz.


4 - Aprenda a dizer NÃO e ... SIM


Adultos: Pode dar por si atarefado e sem possibilidade de assegurar mais tarefas. Não aceite novos pedidos: delegue tarefas, peça ajuda e divida o trabalho com outros colegas.

Por outro lado, diga sim às coisas que lhe dão prazer, leia um livro, sente-se a beber o café com o marido/esposa, faça aquelas palhaçadas com os miúdos.


Crianças: Esta é também a altura que as crianças percebem três coisas acerca dos pais: uma é que os pais também são pessoas com necessidades e que têm de dividir a sua atenção e tempo com outras pessoas ou tarefas. Outra é que os pais estão comprometidos na tarefa de os proteger e de procurar o melhor para todos não indo pela via mais fácil e por isso terão de dizer não algumas vezes. E por fim, que os pais são um exemplo a seguir (por isso temos de tentar ser um bom exemplo). E isto inclui dizer "não consigo" ou "não posso" em vez de dizer "já vou" e não aparecer ou arranjar desculpas. O adulto tem de ser um bom modelo, nos bons e maus momento! E o não e sim vão surgir naturalmente no dia a dia.


5 - Use as tecnologias a seu favor


Adultos: Há várias ferramentas disponíveis no mercado que o podem ajudar a conciliar a vida pessoal e o teletrabalho. Escolha as que melhor respondem às suas necessidades e que o permitam manter o seu dia-a-dia mais organizado.


Crianças: As tecnologias também podem ser utilizadas para outros interagirem com os seus filhos como fazer video chamadas para a professora, para um amigo e para os avós. Importa referir que estas video chamadas podem ir decorrendo… a criança está a brincar enquanto a avó do outro lado está a fazer o almoço. Isto traz uma noção de normalidade para ambos … e também de satisfação.


6- Quebre a rotina


Para todos: Num tempo em que recomendamos reforçar as rotinas, pois estas dão segurança, também é igualmente importante quebrar as rotinas. É importante continuar a haver semana e fim de semana, continuar a haver o dia de jantar fora nem que seja comer na varanda, a tarde de filmes ou a noite de karaoke.


7- Não descure a saúde


Para todos: Mantenha a prática de algum tipo de exercício físico pelo menos em dois momentos do dia, para toda a família. O exercício físico ajuda a aumentar a circulação sanguínea no cérebro e com isso melhora a atenção e o desempenho cognitivo. Por outro lado, a nossa biologia data de tempos em que a atividade física era diária e intensa. Assim, se estamos demasiado sedentários, aquela energia que deveria ser despendida em atividade física fica acumulada, manifestando-se como stress e perturbando o sono.

Deve também privilegiar uma alimentação saudável e ter cuidado com os excessos. Mente sã em corpo são!


8 – Tenha tempo para os todos os universos, separando-os


Adultos: Se já terminou as tarefas planeadas para esse dia, é hora de "desligar". Dedique agora o seu tempo à família, aos amigos (as redes sociais vão ajudá-lo, porque não deve sair de casa 😉 ) ou a algum hobbie.


Mais importante, dedique, pelo menos, uma hora do seu dia a brincar com as suas crianças - para além de contribuir para o desenvolvimento dos laços emocionais, contribui, também, para que as crianças não estejam sempre a solicitar a sua atenção e todos fiquem mais tranquilos e comuniquem melhor. Pode também praticar um pouco de meditação com eles.



Não se esqueça que o seu tempo de desligar não pode ser ocupado a dar tarefas aos outros ou a fazer tarefas de casa. Os outros, nomeadamente as crianças, e vocês próprios também têm de desligar.


E arranje tempo também para namorar… Estes tempos constituem também um desafio ao bem-estar do casal.


E por fim arranje também um bocadinho para ficar a sós com os seus pensamentos e fazer as coisas de que gosta.


O bem-estar psicológico do adulto é essencial na construção da personalidade saudável da criança e do jovem e para o seu desenvolvimento harmonioso.

Parece desafiante e na realidade é. Exige esforço, disciplina, criatividade e poder de adaptação… características essenciais à vida e ao bem-estar. Vamos exercitá-las.


Pode ser difícil manter estes passos e com certeza vão ter de fazer adaptações à vossa realidade. Mas o importante é ir relembrando-os, tornando-os um hábito que se vão replicar também nos mais pequenos e que vão poder manter quando as rotinas voltarem à nova “normalidade” sentindo-se mais capazes, mais conscientes de si próprios e mais poderosos.


E se em algum momento este plano lhe parecer muito ambicioso, quase utópico… que a vida parece um poço sem fundo... que parece não trazer nada de bom... Talvez seja hora de procurar ajuda de um profissional, que irá rever consigo esses sentimentos um a um e estes passos, para que perceba que é possível voltar a sorrir!


Núcleo de Psicologia PdG & Núcleo de Desenvolvimento e Aprendizagem PdG




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