"Conhecemo-nos compreendendo a nossa temporalidade, a nossa incorporação no tempo, a nossa ligação com as raízes — mesmo raízes das quais conscientemente nos separamos." - Benjamin R. Barber
Ano novo vida nova… certo?! Mas, AINDA ALGUÉM SE LEMBRA DO QUE SE PROPÔS PARA ESTE ANO DE 2022?! É que isto de finalizar um ano e começar outro leva a reflexões, balanços e...resoluções de ano novo! No entanto, habitualmente - pelo menos é o meu caso - bastam apenas meia dúzia de dias para essas resoluções ficarem na gaveta - Procrastinar passa a ser a palavra de ordem! - e só saltarem cá para fora para suscitarem sentimentos de fracasso que não queríamos ver repetidos.
É verdade que o final do ano dá-nos uma noção do tempo a passar e a ideia de um novo começo parece dar-nos aquela motivaçãozinha extra de que estávamos a precisar para realmente agir. Daí sentirmo-nos impelidos todos os anos a fazer um sem número de resoluções em que nos projetamos no novo ano com uma nova energia de que tudo é possível.
Mas porque é que fazemos todos tantas resoluções - há até quem faça listas ou peça desejos - quando pouco depois já nos esquecemos de as pôr em prática?! O que falha?!
Talvez a questão esteja no formato da resolução! Não nos inspira nem nos mobiliza. A energia acaba mal se guarda a árvore de Natal e tudo volta ao velho "ranram". Numa incursão pela net encontrei uma possivel resposta e solução quando me deparei com o blog de Christine Kane! Fez-me pensar sobre o assunto. Christine Kane diz que a principal razão para as resoluções falharem é porque abordam apenas um nível da nossa vida. O nível DO no modelo DO-HAVE-BE. E ela acrescenta um exemplo "Vou fazer isto" (ou seja, perder peso) "Para que eu possa ter esta outra coisa" (Autoestima) e eu posso ser esta outra coisa (Confiante). E contrapõe que a melhor ordem para criar mudanças positivas na nossa vida deve ser a do modelo BE-DO-HAVE. Isto significa que começamos a partir do nível do BE mudando-nos no cerne, o que torna mais fáceis o nível DO e o nível HAVE. Presumo que o que ela nos quer mostrar é que habitualmente ficamos na rama de um ou mais objetivos, sem refletirmos no plano real para que eles se concretizem, nem sobre quais as reais atitudes necessárias à mudança. A verdade é que muitas destas resoluções são feitas em forma de desejo, deixando a mudança na mão da magia do novo ano. Esquecemos assim o necessário papel ativo que cada um tem para que realmente a mudança aconteça. Sem uma mudança vinda de dentro, uma vida igual dificilmente dará um resultado diferente! Voltando ao exemplo: Posso desejar emagrecer, ir ao ginásio todas as semanas, dedicar mais tempo à leitura, mas sem um plano concreto com certeza não o conseguirei.
E não pode ser um plano qualquer, tem de ser um plano que vá ao centro da questão, questão essa que muitas vezes aglutina todas as resoluções e não tem a ver diretamente com o objetivo final. Não emagreço, não vou ao ginásio e não tenho tempo para ler porque não me dedico a esses projetos, porque me organizo mal no tempo, não priorizo as tarefas, como à pressa, fico presa ao sofá, desforro-me na comida após dias longos de stress e depois culpabilizo-me. Se calhar faria mais sentido que a resolução fosse antes ORGANIZAÇÃO, TEMPO ou AUTOCONTROLO! A resolução tem de partir de dentro para ter efeito e tem de provocar mudanças internas. É algo que se vai construindo com avanços e recuos na plena consciência do esforço da mudança. Irmos ao cerne da questão, àquilo de que somos feitos ou queremos ser! E esse esforço gera mais energia!
De volta ao exemplo: Sempre que me propuserem novos trabalhos vou-me lembrar da ORGANIZAÇÃO e vou ter em mente se os posso aceitar e como os enquadro no plano do dia a dia. Muitas vezes vou falhar mas posteriormente vou-me dedicar a analisar e retificar essas falhas ficando cada vez mais organizada e sentindo satisfação nos pequenos passos. Assim, e seguindo a sugestão da Christine Kane talvez em vez de resoluções devêssemos eleger antes uma palavra. Uma palavra que resulte de uma reflexão interna, que nos coloque como responsáveis e agentes da mudança e que nos guie durante todo o ano. A palavra lembrar-nos-á rapidamente de que queremos viver as nossas vidas ao nível do que queremos ser, mobilizando-nos por uma melhor versão de nós e aceitando os fracassos como passos no processo da evolução. Porque a viagem é tão divertida como o destino! Deverá ser uma palavra que nos toque de uma forma maior, que reúna a energia dessa mudança, nos inspire ao longo do ano! Uma palavra que nos encoraje a fazer melhores escolhas. A fortalecer em vez de subjugar, a inspirar em vez de julgar, a adorar o desafio das escolhas e da responsabilidade!
A cada dia e a cada novo desafio não queremos atear a fogueira das culpas mas estimular o mindset da aprendizagem e evolução constantes focando em nós a energia dessa mudança, para melhor. Procurar ativamente soluções e chamar para nós a responsabilidade do nosso caminho e, se possivel, com isso contaminar quem nos rodeia! Parece-vos bem? Nada como testar! Sei que já vamos a meio de janeiro mas isso é mais uma razão para refletirmos sobre o caminho que queremos seguir porque é possivel que já tenhamos descarrilado de novo.
Não se esqueçam de refletir antes de tomarem a decisão da palavra que vos iluminará em 2022 para escolherem uma que se enquadre naquilo que querem ser. Podem mesmo rever as resoluções que fizeram e ver o que lhes está na base - qual o denominador comum? Podem surgir várias mas tentem decidir-se só por uma, para manterem o foco! E também, não se esqueçam de ir fazendo o balanço já que a palavra pode deixar de fazer sentido ao longo do ano e aí deve ser renovada. E já agora, vamos ensinar aos nossos filhos esta forma de pensar? No caso deles não faria mais sentido em vez da resolução ser "estudar mais para ter boas notas" ser alterada para a palavra Empenho que vai implicar a uma série de coisas (atenção nas aulas, esmero nos trabalhos, estudo eficiente) culminando em aprendizagem. De novo passamos de um domínio focado no resultado para nos focarmos no caminho. Mas atenção! É importante que a mudança seja auto-motivada e não imposta pelos pais. A ideia é que também eles se sintam responsabilizados pelo seu caminho, que disfrutem da viagem e reconheçam que o seu esforço é o responsável pelo seu progresso. E para isso nada melhor do que servirmos de modelo... Falamos do poder de uma palavra na construção de um pedacinho da melhor versão de nós a cada dia! Parece, pelo menos, um bom motivo para imergir no nosso pensamento e refletir sobre as coisas e sobre o que nos mobiliza.
"Para ser verdadeiramente livre, as minhas escolhas devem ser verdadeiramente minhas — devem estar de acordo com o "eu" com que associo a minha identidade principal. Devo fazê-las de acordo com planos racionais de vida. Não podem ser desencadeadas por influências externas ou ocultas invisíveis ..." - Benjamin R. Barber
Prontos para a versão renovada 2022 de cada um de nós!?
Boas reflexões e boas palavras!
Em nome de toda a equipa da PdG desejamos a todos um ano de 2022 cheio de experiências, desafios e aprendizagens!
Clara Alves Pereira
(Diretora Clínica PdG)
Comments